9 de abril de 2017

Valores


O espelho não reflete muito de você...
Para isso é preciso conhecer mais o coração!



14 de janeiro de 2017

8 de janeiro de 2017

"O FRIO PODE SER QUENTE?..."


As coisas têm muitos jeitos de ser,
depende do jeito que a gente vê.

O comprido pode ser curto e o pouco pode ser muito.

O manso pode ser bravo e o escuro pode ser claro.

O fino pode ser redondo e o doce pode ser amargo.

O quente pode ser frio e o que parece um mar também pode ser um rio.
(...)
Uma árvore é tão grande se a gente olha lá para cima mas do alto de uma montanha ela parece tão pequenina.

Grande ou pequena depende do quê?

Depende de onde a gente vê.

O domingo é tão curto os outros dias duram tanto,
nas horas eles são iguais
a diferença deve estar naquilo que a gente faz.

O amanhã de ontem é hoje, o hoje é o ontem de amanhã;
dentro dessa complicação quem tem uma explicação?

Dá até para perguntar se o amanhã nunca chega,
e também para pensar hoje, ontem, amanhã depende do quê,
depende do jeito que você vê.
(...)
O pouco pode ser muito, o quente pode ser frio,
será que tudo está no meio e não existe só o bonito ou só o feio?

O comprido pode ser curto, o fino pode ser redondo,
parece mesmo que no fim o bom pode ser ruim,
e neste caso por que não o ruim pode ser bom?

Curto e comprido, bom e ruim, vazio e cheio, bonito e feio
- são jeitos das coisas ser, depende do jeito da gente ver.


Ver de um jeito agora e de outro jeito depois, ou melhor ainda,
ver na mesma hora os dois.

4 de janeiro de 2017

O Instante Antes do Beijo

Não quero o primeiro beijo:
basta-me
O instante antes do beijo.
Quero-me
corpo ante o abismo,
terra no rasgão do sismo.
O lábio ardendo
entre tremor e temor,
o escurecer da luz
no desaguar dos corpos:
o amor
não tem depois.
Quero o vulcão
que na terra não toca:
o beijo antes de ser boca.

Mia Couto
, in ‘Tradutor de Chuvas’

19 de dezembro de 2016

Quando



Tão perto e tão longe
Tão longe e tão perto
De tão perto nada se vê
De tão longe tudo se perde
E quando se perde, vê 


18 de dezembro de 2016

"Não duvide..."

Não duvide do valor da vida, da paz, do amor, do prazer de viver, em fim, de tudo que faz a vida florescer. Mas duvide de tudo que a compromete. Duvide do controle que a miséria, ansiedade, egoísmo, intolerância e irritabilidade exercem sobre você. Use a dúvida como ferramenta para fazer uma higiene no delicado palco da sua mente com o mesmo empenho com que você faz higiene bucal.

4 de dezembro de 2016

ou Isto ou Aquilo

Ou se tem chuva e não se tem sol
ou se tem sol e não se tem chuva!
Ou se calça a luva e não se põe o anel,
ou se põe o anel e não se calça a luva!
Quem sobe nos ares não fica no chão,
quem fica no chão não sobe nos ares.
É uma grande pena que não se possa
estar ao mesmo tempo nos dois lugares!
Ou guardo o dinheiro e não compro o doce,
ou compro o doce e gasto o dinheiro.
Ou isto ou aquilo: ou isto ou aquilo…
e vivo escolhendo o dia inteiro!
Não sei se brinco, não sei se estudo,
se saio correndo ou fico tranqüilo.
Mas não consegui entender ainda
qual é melhor: se é isto ou aquilo.
Meireles, C. Ou Isto ou Aquilo. In: Poesia Completa. Rio de Janeiro, Nova Fronteira, 2001, p. 1483