Nada acontece por acaso.
Em tudo há um porquê.
Era para a gente se encontrar.
Apague essas frases, largue o curso
preparatório de noivos.
Amor não é uma fatalidade, é algo que
inventamos, é a responsabilidade de definir, de assinar, de honrar a
letra.
Colocamos a culpa no destino para não
assumirmos o controle, tampouco sustentarmos nossas experiências e explicarmos
nossas falhas.
Amar é oferecer nossas decisões para o outro
decidir junto, é alcançar o nosso passado para o outro lembrar junto, mas jamais
significa se anular.
É vulnerabilidade consciente. É fraqueza
avisada.
É entregar nossa solidão ciente de que é
irreversível, podendo nos ferir feio, podendo nos machucar fundo. Não existe nada mais horrível e mais
lindo.
Ninguém nos mandou estar ali, ninguém nos
obrigou a nos aproximar daquela pessoa, ninguém nos determinou a começar uma
relação.
Não teve um chefão, um mafioso, um tirano, um
ditador nos ordenando namorar.
Foi você que optou. Assuma até o fim que é sua
obra, inclusive o fim. Assuma que sua companhia é resultado direto do seu gosto,
sendo canalha ou santa. Não adianta se iludir e tirar o pé. Não vale fingir e
mentir freios.
Amor não é hipnose, passe, incorporação. É você
querendo o melhor ou pior para sua vida. É você roteirizando e dirigindo as
cenas.
Aquele que tem receio de se declarar não se deu
conta de que é o próprio diretor do filme, e que a tela vai mostrar o sucesso e
o fracasso de sua imaginação.
Por isso, não tenho medo de dizer “eu te amo”
desde o início. O amor aumenta para quem diz “eu te amo”.
Se vou errar, eu é que errei. Se vou acertar,
sou eu que acertei. Se vou me danar, o inferno será meu.
Falo “eu te amo” já no segundo encontro. Já
para assustar. Já para avisar quem manda. Já para estabelecer as regras do
jogo.
Falo no calor da hora ou no moletom do
entardecer. Amor não surge do além, amor se cria da insistência.
A precipitação é uma farsa. Não há como me
adiantar e me atrasar em sentimento que eu mesmo realizo. É bobagem negacear
prazos, esperar amadurecer limites.
Exponho minha paixão fácil, fácil. Nem precisa
perguntar.
Aprendo a amar amando, para entender que a
maior declaração ainda não é o “eu te amo”. É quando alguém confessa: “Não
consigo mais viver sem você”.
Mas isso não é amor, é coragem.
Publicado no jornal Zero
Hora
Coluna semanal, p.
2, 31/12/2012 e 1/01/2013
Porto Alegre (RS), Edição N° 1729
Porto Alegre (RS), Edição N° 1729