“Hoje não há razões
para otimismo. Hoje só é possível ter esperança. Esperança é o oposto do
otimismo. “Otimismo é quando, sendo primavera do lado de fora, nasce a primavera
do lado de dentro. Esperança é quando, sendo seca absoluta do lado de fora,
continuam as fontes a borbulhar dentro do coração.” Camus sabia o que era
esperança. Suas palavras: “E no meio do inverno eu descobri que dentro de mim
havia um verão invencível...” Otimismo é alegria “por causa de”: coisa humana,
natural. Esperança é alegria “a despeito de”: coisa divina. O otimismo tem suas
raízes no tempo. A esperança tem suas raízes na eternidade. O otimismo se
alimenta de grandes coisas. Sem elas, ele morre. A esperança se alimenta de
pequenas coisas. Nas pequenas coisas ela floresce. Basta-lhe um morango à beira
do abismo. Hoje, é tudo o que temos ao nos aproximarmos do século XXI: morangos
à beira do abismo, alegria sem razões. A possibilidade da esperança
...”
Rubem Alves
Rubem Alves
(Concerto para corpo e alma . Editora Papirus ,
p.159-160)
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