Quem está apaixonado não desmarca
encontro.
Cancela trabalho, família, viagem, mas não
suspende compromisso.
Assume prejuízo, enfrenta chefia, suporta
calado todos os dissabores, mas não abre mão. Não nega o que foi firmado.
Mesmo que tenha trocado o mês ou se confundido
com a data, assume o erro como acerto e segue em frente. Troca de turno com
colega, compra amigos, arruma atestado médico.
Quem está apaixonado jamais desmarca encontro.
Nem altera horário. Não tem coragem de pedir para que seja mais cedo ou mais
tarde. Não é capaz de reivindicar 10 minutos a mais ou a menos. Não mexe no
assunto. Não adapta planos. Não negocia prazos.
Aceita a data como um desígnio. Uma audiência
de Justiça. Uma convocação da Receita Federal. Se não for, tem a sensação de que
será preso, condenado por esnobar o amor.
Não brinca com a autoridade do encontro. Receia
que não aconteça de novo, não arrisca zombar do destino. Não oferece chance ao
azar. Teme um imprevisto, penteia o calendário, apressa o relógio e o
coração.
Vive o transe de ser feliz, a hipnose de não
pensar em um segundo plano.
Quem está apaixonado não arranja desculpa,
inventa saídas.
Quem está apaixonado não se presta a solicitar
fiado, paga à vista.
Só aquele que realmente não sente saudade é que
adia encontro. Se o café é sempre postergado é que falta vontade.
Adiar compromisso é sinal de desamor. Não
precisa de mais nenhuma prova. Não há aquele interesse máximo, aquela tara,
aquela dependência.
O sujeito pode ter uma justificativa nobre:
imposição do emprego, doença, tragédia. Nenhum pretexto servirá para remendar a
esperança.
Não se mexe em encontro entre apaixonados.
Deixa para adoecer depois, deixa para morrer depois.
Se alguém liga para reagendar sacrificou a
paixão. É aviso fúnebre, é velório da voz. Significa que não está realmente a
fim. Demonstra que tem um interesse passageiro, efêmero, pouco sério.
O apaixonado enlouquece com a simples hipótese de não ver mais o outro. Não vai estragar a importância do enlace, diminuir a expectativa, mostrar desapego.
Eu fiquei imensamente eufórico ao lembrar que
nunca desmarquei nada com minha mulher, Juliana.
Fui me gabar para ela:
- Amor, jamais cancelamos nenhum encontro entre
nós, não é legal?Juliana me analisou com desconfiança:
- Fabrício, a gente só teve um encontro e não mais nos desgrudamos.
Eu percebi que a tática para não sofrer com
atrasos e remanejos é permanecer junto desde o primeiro beijo. E não se soltar
mais. Foi o que eu e Juliana fizemos.
A paixão é um sequestro. O amor é quando
pagamos o resgate
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