25 de julho de 2014

A arte de se (re)apaixonar todos os dias - Você pratica ?


Os filmes, novelas e livros com enfoque romântico costumam dar um especial enfoque na vida de casal quando ela ainda não se formou, ou seja, naquela fase embrionária da conquista e da paixão onde não existe nada muito sólido. Quando o assunto gira em torno da vida de casal com mais tempo de existência normalmente a categoria da trama é o drama.
Isso parece ter certa lógica dentro do que entendemos por relacionamento amoroso, afinal, o esforço todo é colocado na fase em que nada é ainda muito seguro e a dupla precisa se convencer que vale a pena passar mais tempo junto.
Na maior parte das vezes o que vejo no consultório de terapia são pessoas sequeladas em suas histórias onde foram surpreendidas por facetas pouco amistosas dos parceiros amorosos. Ao longo do relacionamento notaram certa preguiça ou pouco empenho em tornar o convívio mais agradável.
Mas será que é possível se apaixonar pela mesma pessoa todos os dias?
Sim e não. Não, se pensarmos no tipo de paixão muito comum que é aquela um pouco delirante e que idealiza a outra pessoa como se ela fosse um ícone de grandes qualidades. Nessa fase um pouco infantil da paixão os aspectos notórios são sempre exteriores à própria pessoa como a beleza, o status, a ação corajosa e as conquistas aparentes. Não poderia ser diferente, afinal não existe um parâmetro inicial para balizar uma escolha sem começar por algum lugar. O problema é que essa parece ser a única referência da paixão onde as pessoas se fixam em códigos sociais e estéticos para entregar sua vida à outra.
Mas se a paixão também considerar os valores, os traços de personalidade e as pequenas delicadezas anônimas do cotidiano, então é possível essa paixão diária. Certamente ela é mais terna ou suave e por esse motivo não seja muito popular num mundo onde as pessoas valorizam manifestações eufóricas e exageradas de afeto.
De qualquer modo esse reencantamento diário não é para os distraídos-egocêntricos que estão muito aprisionados em suas imaginações perfeitas de como a vida deveria ser, mas sim para os que conseguem degustar a vida com apreciação serena. Para alguém que mal mastiga a comida, olha nos olhos quando fala com alguém ou respira direito esse tipo de sentimento parece uma lenda ou invenção de gente louca. Quando a vida é acelerada não há espaço para essas sutilezas do cotidiano.
Mas repare com calma na pessoa amada e veja como ela levanta com meiguice ou coragem numa segunda-feira gelada e me diga se não é muito sedutor. Tente perceber como ela recua diante de uma palavra que seria solta impensadamente só para deixar você falar uma coisa empolgante. Observe como ela facilitou sua vida com uma carona fora de rota depois de um dia difícil só para que não precisasse se sobrecarregar. Sinta como é confortável estar ao lado dela mesmo quando nada é dito e o assunto acabou.
É no silêncio da relação que a paixão acontece diariamente, onde nem maquiagem ou carro do ano convencem. É exatamente naquele ponto onde ambos se esforçam para agir como seres humanos melhores que a combustão acontece, afinal ser apaixonado quando todo mundo está olhando ou quando dá ibope nas redes sociais é fácil. A verdadeira arte de se reapaixonar mora nos detalhes dos anos que envelhecem as vontades imediatistas, mas fortalecem a natureza do caráter. Esse brilho nos olhos com pés-de-galinha realmente tem sido para poucos.


Trecho

 "...O amor mais que tudo nos revela: manifesta nossas tendências, o que preferimos e escolhemos para nós."

Erro

O nosso maior erro consiste em tentarmos colher de cada pessoa em particular as virtudes que elas não têm, e de nos esquecermos de cultivar as que de fato são suas.

Felicidade

"Ninguém sabe direito o que é felicidade, mas, definitivamente, não é acomodação."

Validade das Coisas


20 de julho de 2014

"...sonhos..."

Quem é rico em sonhos não envelhece nunca. Pode até ser que morra de repente. Mas morrerá em pleno voo...

16 de julho de 2014

A Grama do Vizinho


Ao amadurecer, descobrimos que a grama do vizinho não é mais verde coisíssima nenhuma. Estamos todos no mesmo barco.
Há no ar certo queixume sem razões muito claras.
Converso com mulheres que estão entre os 40 e 50 anos, todas com profissão, marido, filhos, saúde, e ainda assim elas trazem dentro delas um não-sei-o-quê perturbador, algo que as incomoda, mesmo estando tudo bem.
De onde vem isso? Anos atrás, a cantora Marina Lima compôs com o seu irmão, o poeta Antônio Cícero, uma música que dizia:
“Eu espero/ acontecimentos/ só que quando anoitece/ é festa no outro apartamento”.
Passei minha adolescência com esta sensação: a de que algo muito animado estava acontecendo em algum lugar para o qual eu não tinha convite. É uma das características da juventude: considerar-se deslocado e impedido de ser feliz como os outros são, ou aparentam ser. Só que chega uma hora em que é preciso deixar de ficar tão ligada na grama do vizinho.
As festas em outros apartamentos são fruto da nossa imaginação, que é infectada por falsos holofotes, falsos sorrisos e falsas notícias. Os notáveis alardeiam muito suas vitórias, mas falam pouco das suas angústias, revelam pouco suas aflições, não dão bandeira das suas fraquezas, então fica parecendo que todos estão comemorando grandes paixões e fortunas, quando na verdade a festa lá fora não está tão animada assim. Ao amadurecer, descobrimos que a grama do vizinho não é mais verde coisíssima nenhuma. Estamos todos no mesmo barco, com motivos pra dançar pela sala e também motivos pra se refugiar no escuro, alternadamente.
Só que os motivos pra se refugiar no escuro raramente são divulgados. Pra consumo externo, todos são belos, sexys, lúcidos, íntegros, ricos, sedutores.
“Nunca conheci quem tivesse levado porrada/ todos os meus conhecidos têm sido campeões em tudo”.
Fernando Pessoa também já se sentiu abafado pela perfeição alheia, e olha que na época em que ele escreveu estes versos não havia esta overdose de revistas que há hoje, vendendo um mundo de faz-de-conta. Nesta era de exaltação de celebridades – reais e inventadas – fica difícil mesmo achar que a vida da gente tem graça. Mas, tem. Paz interior, amigos leais, nossas músicas, livros, fantasias, desilusões e recomeços, tudo isso vale ser incluído na nossa biografia. Ou será que é tão divertido passar dois dias na Ilha de Caras fotografando junto a todos os produtos dos patrocinadores? Compensa passar a vida comendo alface para ter o corpo que a profissão de modelo exige? Será tão gratificante ter um paparazzo na sua cola cada vez que você sai de casa? Estarão mesmo todos realizando um milhão de coisas interessantes enquanto só você está sentada no sofá pintando as unhas do pé? Favor não confundir uma vida sensacional com uma vida sensacionalista. As melhores festas acontecem dentro do nosso próprio apartamento.

2 de julho de 2014